Na década de 1920, após o pai ter sido morto por uma disputa política, Chico Pereira decidiu se juntar ao bando de Lampião, em busca de vingança. As histórias do cangaceiro estão marcadas na memória dos moradores da cidade de Nazarezinho, no Sertão da Paraíba, onde viveu, e inspiraram até um documentário. No último dia 23, a casa onde ele morou, na fazenda Jacú, foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep).

A decisão foi publicada no Diário Oficial do Estado (DOE), um dia após o aniversário de emancipação política de Nazarezinho - que era distrito de Sousa na época. A medida leva em conta a importância arquitetônica e cultural do imóvel para a história da Paraíba.

Com o tombamento, o Iphaep passa a fiscalizar e orientar reformas, pintura, bem como projetos de recuperação do imóvel tombado. O objetivo é preservar o patrimônio histórico.

Luta de movimentos culturais

O tombamento da casa de Chico Pereira representa um resultado de luta de membros de movimentos culturais do Sertão, como é o caso de Iris Mendes e Helena Pereira. Elas integram a Casa de Cultura Júlia Rocha. Em 2013, realizaram o evento “Parahyba Cangaço”, em Nazarezinho, Lastro e Sousa, cidades por onde os cangaceiros passaram. A partir deste e de outros movimentos, Iris Mendes e Helena Pereira, em parceria com outros estudiosos e representantes culturais, solicitaram que a casa fosse protegida pelo patrimônio histórico.



Seminário Parahyba Cangaço — Foto: Iris Mendes/Arquivo Pessoal



Manifesto ao poder público — Foto: Iris Mendes/Arquivo Pessoal


Helena Pereira também criou o documentário “Na Cabeça do Povo”, sobre a história de Chico Pereira. A produção foi selecionada em 2015 no projeto “Revelando os Brasis”, promovido pelo Instituto Marlin Azul, com patrocínio da Petrobrás.



O documentário explora memórias de moradores de Nazarezinho e o depoimento da historiadora Maria do Socorro Augusta. Segundo os relatos, o pai de Chico Pereira, João Pereira, foi assassinado em 1922, após uma disputa entre famílias. No leito de morte, o pai teria dito ao filho que não se vingasse e que procurasse a justiça.

Helena relata que o interesse dela na história do cangaceiro começou por causa de seu pai. Ele costumava ler para os vizinhos trechos do livro "Vingança, Não", sobre a história de Chico Pereira. A obra foi escrita pelo filho do cangaceiro, F. Pereira Nóbrega.

Com o tombamento, Helena Pereira espera a restauração da casa e construção de um centro cultural. "Agora vamos ver se a gente consegue a restauração porque tombar e não restaurar não adianta nada, né? Já tem parte da casa que está caindo", afirmou.

O g1 entrou em contato com a prefeitura de Nazarezinho para saber se há a previsão de restauração da casa de Chico Pereira, mas não teve resposta até a publicação desta notícia.

Cangaceiro diferente




Chico Pereira em fotografia de 1924 — Foto: José Romero Araújo Cardoso/Reprodução



O pai de Chico Pereira, o coronel João Pereira, foi morto por um homem chamado Zé Dias, em uma disputa entre famílias. Chico chegou a capturar o autor do crime e entregá-lo às autoridades. Zé Dias, porém, não ficou preso por muito tempo, despertandoem Chico o desejo por vingança. Os acontecimentos motivaram a entrada do cangaceiro no bando de Lampião.

Chico Pereira não utilizava as vestes tradicionais do cangaço, como o chapéu de abas dobradas na testa e o gibão. Ele preferia utilizar lenço no pescoço, chapéu de abas abertas, cartucheiras e calças culote. Por isso, é tratado por pesquisadores como “um cangaceiro diferente”. Em um trecho da Gazeta de Notícias, de 10 de novembro de 1927, o cangaceiro é retratado como “um admirador dos heróes (sic) do Far-West americano”. O texto é citado na monografia “Nas Redes das Memórias: as múltiplas facetas do cangaceiro Chico Pereira”, de Guerhansberger Tayllow Augusto Sarmento.

Chico Pereira permaneceu no cangaço até 1928, realizando saques pela Paraíba e Rio Grande do Norte, quando foi preso em Cajazeiras, e transferido para Natal, no Rio Grande do Norte, e em seguida para Acari, no interior do estado potiguar. Durante o percurso, houve um capotamento que resultou na morte do cangaceiro. No documentário “Na Cabeça do Povo”, a historiadora Maria do Socorro Augusta explica que até hoje não foi comprovado se o cangaceiro morreu no acidente ou se foi executado.

“Existem várias controvérsias, mas a verdade é que essa incógnita continua até hoje. Será que ele realmente morreu no acidente?”, questiona a historiadora.

Quando morreu, Chico Pereira tinha 28 anos de idade e deixou sua esposa Jardelina Nóbrega, aos 17 anos, com três filhos pequenos.


Fonte: G1 PB