O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, concorre, no domingo (7), ao seu quarto mandato consecutivo —ele está no poder desde 2007. Na prática, ele concorre sozinho: todos os candidatos com potencial de enfrentá-lo foram presos ou forçados a sair do país. O principal partido de oposição foi formalmente impedido de concorrer.

Ortega permitiu que outros cinco candidatos, todos desconhecidos, concorressem.

Nos últimos meses, o regime da Nicarágua

Prendeu sete pré-candidatos;
Prendeu 39 políticos, empresários, agricultores, estudantes e jornalistas;
Cassou três partidos políticos.


Uma das pessoas presas é a ex-miss nicaraguense Berenice Quezada, que foi pré-candidata a vice-presidência na chapa lançada pelo partido Cidadãos pela Liberdade (CxL). Ela foi rotulada de terrorista, e sua prisão domiciliar foi decretada pelo regime. Ela foi considerada inabilitada para concorrer às eleições.



Berenice Quezada durante discurso em 28 de julho de 2021 — Foto: Maynor Valenzuela/Reuters


O atual presidente tem como companheira de chapa a mulher Rosario Murillo, que ele chama de “copresidenta”. Os dois lideram a Frente Sandinista de Libertação Nacional, um partido derivado de uma frente de guerrilha dos anos 1970.


Uma pesquisa da consultoria Cid-Gallup aponta que 65% das pessoas da Nicarágua votariam em um opositor, e 19%, em Ortega.



Homem passa por um outdoor de propaganda do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, no início da campanha para as eleições presidenciais, em Manágua, em setembro — Foto: Reuters/Maynor Valenzuela


Detidos são acusados de traição


A favorita para ser eleita era Cristiana Chamorro, filha da ex-presidente Violeta Barrios (1990-1997) e que está em prisão domiciliar.

Os detidos são acusados de atentar contra a soberania e promover sanções contra a Nicarágua, "traição à pátria" ou "lavagem de dinheiro", com base em leis aprovadas em 2020 pelo Congresso, sob controle governista, assim como o Poder Judiciário e as autoridades eleitorais.


Fuga em massa para o exílio

Para Ortega, os mais de 150 opositores detidos desde 2018 não são políticos, e, sim, "criminosos" e "golpistas" patrocinados por Washington.


Mais de 100 mil nicaraguenses partiram para o exílio, sobretudo Estados Unidos e Costa Rica, durante a crise política.


Segurança no dia da votação

Mais de 30 mil policiais e soldados foram mobilizados desde o começo da semana na Nicarágua para resguardar as eleições de domingo.



Motoqueiro passa em frente a cartaz com Daniel Ortega em Manágua, em 2 de novembro de 2021 — Foto: Oswaldo Rivas / AFPO tribunal eleitoral, com a ajuda de militares e policiais, começou a distribuição de caixas com as cédulas eleitorais, a tinta e outros materiais que serão usados nos mais de 3.000 centros de votação, anunciou a presidente do Conselho Supremo Eleitoral (CSE), Brenda Rocha, durante ato oficial.

O comandante do Exército, general Julio Avilés, informou que 15 mil soldados participarão do plano de segurança, com o apoio de 600 meios de transporte terrestre, 400 equipamentos de comunicação de rádio, sete veículos aéreos e 80 embarcações da Marinha.

A polícia vai mobilizar 16.665 homens.

Críticas da União Europeia

O governo rejeitou a observação internacional de organismos como Organização dos Estados Americanos (OEA) e União Europeia.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou na terça-feira que as eleições não serão legítimas porque Ortega prendeu todos os outros candidatos.

"O senhor Ortega se preocupou em prender todos os candidatos políticos que se apresentaram a essas eleições e não podemos esperar que este processo chegue a um resultado que possamos considerar legítimo, e sim o contrário", declarou Borrell.

"A situação na Nicarágua é uma das mais graves que há neste momento no continente americano", disse Borrell. Segundo ele, o processo eleitoral só busca a "manutenção no poder do ditador" Ortega, e as eleições no país “são completamente fake " (de mentira), disse ele.

Críticas similares à Nicarágua foram feitas na semana passada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que afirmou que as atuais condições repressivas "tornam inviável um processo eleitoral íntegro e livre".

O Senado dos Estados Unidos aprovou, na segunda-feira, um projeto para aumentar a pressão diplomática sobre Ortega (no poder desde 2007).

Contas falsas em rede social ligadas ao governo

A Meta, empresa controladora do Facebook, anunciou na segunda-feira (1º) que eliminou de suas redes mais de mil contas administradas pelo governo da Nicarágua para manipular o debate público e atacar a oposição, a uma semana das eleições presidenciais.

"Essa foi realmente uma operação cruzada do governo, a fazenda de trolls consistia em vários grupos administrados em múltiplas entidades governamentais diferentes de cada vez", disse o líder global de Inteligência para Operações de Influência da Meta, Ben Nimmo.

O esquema funcionava desde abril de 2018 e suas redes foram eliminadas em outubro de 2021. Foram 937 contas do Facebook, 363 do Instagram, 140 páginas e 24 grupos.

Segundo a Meta, as contas eram operadas pelo governo da Nicarágua ou pelo ex-guerrilheiro Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN, esquerda), no poder desde 2007.

As contas tinham cerca de 585 mil seguidores. Os perfis no Instagram eram seguidos por 125 mil contas.

Fonte: G1