Alguns moradores da área foram ao local e não conseguiram localizar onde os parentes tinham sido enterrados. O aposentado Severino Francisco, que acompanhou a época da fuga dos moradores com a enchente, contou que o fato de saber que os parentes mortos estavam submersos na barragem gerava uma preocupação. "Não deu tempo para nada, cobriu tudo. Eu até passei muito tempo transtornado com isso, pensando nos restos mortais dos nossos antepassados que tinham ficado aqui", comentou.
A construção da barragem começou nos anos 1980, mas só terminou efetivamente em agosto de 2002. Estudos da época indicavam que levaria cinco anos para a barragem encher, mas fortes chuvas fizeram com que ela chegasse em seu nível máximo em apenas dois anos. Assim, não houve o tempo previsto para que as ossadas fossem retiradas dos cemitérios. A obra causou o deslocamento de cinco mil pessoas de cerca de 900 famílias que viviam às margens do rio Paraíba.
barragem de Acauã - PB
A escolha do período para a realocação, segundo o MPF, se dá em decorrência do longo período de estiagem que atinge a bacia do Rio Paraíba. Com isso, a barragem sofreu uma redução no volume de água e fez os cemitérios submersos aparecerem. A retirada das ossadas aproveita o período de baixa ocorrências de chuvas, que só devem voltar a ser registradas a partir de março.A transferência foi definida em uma reunião do MPF com os prefeitos dos municípios para onde os restos serão transferidos, além de representantes do Movimento Atingidos por Barragens, da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema) e da Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa).
Para transferir as ossadas, foi preciso que as famílias dos sepultados fizessem o reconhecimento dos túmulos e autorizassem a remoção. A retirada dos restos mortais está sendo feita pelas prefeituras, com o apoio dos próprios familiares das comunidades.
Os restos mortais estão sendo transferidos para os cemitérios das comunidades de Cajá, em Itatuba. Na cidade de Aroreiras, a obra do cemitério está em fase de conclusão, já o de Itatuba ainda será construído. De acordo com o MPF, cada um dos novos cemitérios abrigará um memorial com o nome dos mortos cujo reconhecimento pelos familiares não foi possível.
Fonte : G1 PB